Assalto 3

AsSALTO 03

Casa Burguesa na Rua de Cedofeita

Rua de Cedofeita, 492/498, Porto.

Trata-se de um exemplo da tipologia habitacional do Porto burguês que, com uma largura maior do que a do lote do tempo dos Almadas, compõe uma parte importante do tecido urbano da cidade entre a segunda metade do século XIX e as primeiras décadas do século XX.
A casa é constituída por salas e salões de amplo pé direito, com carpintarias e tectos trabalhados, uma escadaria principal, um pátio exterior revestido a azulejo e um jardim e estufa na parte traseira do lote, indicadores do modo de vida burguês daqueles tempos. A organização dos espaços interiores é, deste modo, reflexo desse modo de vida, com espaços de circulação distintos, um para os funcionários e um outro para os donos da casa. Por isso, a duplicação das caixas de escadas, a relação com a cave onde estavam os espaços de serviço e, até, o mezzanine sobre a escada principal que permite uma relação visual e auditiva com o piso superior reservado aos aposentos dos funcionários e apenas acessível pela escada de serviço.

Por um outro lado, a casa desperta também interesse pela figura do seu proprietário. Foi totalmente reconstruída em 1910 pelo conselheiro Eduardo Honório de Lima (1853-1939), um rico industrial, proprietário da Fábrica de Curtumes do Bessa no Porto e grande impulsionador da Empresa das Águas do Gerês. Para além disso, Honório de Lima foi também um grande coleccionador de arte – tendo doado a sua colecção de quadros de Silva Porto ao Museu Nacional de Soares dos Reis -, um amante da música – fundador do Orfeon Portuense – e um grande mecenas da Cidade do Porto, sendo o mentor da reconstrução do Teatro S. João, após o incêndio de 1908. Como nota de rodapé, refira-se que é bisavô do presidente do Futebol Clube do Porto. Entre os arquitectos, Honório de Lima notabilizou-se também por ter encomendado um projecto de uma moradia ao então jovem arquitecto Viana de Lima, uma obra de clara influência corbusiana que foi concluída em 1939, ano da morte do seu proprietário. Infelizmente, essa casa foi demolida algumas décadas depois para ser substituída por um edifício de habitação colectiva.

A casa de Cedofeita, tal como tantas outras habitações, foi objecto de diversas alterações ao longo dos anos. Primeiro pela mão do genro que introduziu um elevador em 1940. Depois pela Mocidade Portuguesa e, em seguida, pelo Centro de Cultura e Desporto dos Trabalhadores da Administração Regional de Saúde do Porto que, ali tendo-se instalado, foram unindo várias salas, adaptando-as às suas necessidades educativas e recreativas. Actualmente necessitada de obras de reabilitação, a casa prepara-se para ser transformada em vários apartamentos destinados ao aluguer de curta duração para o turismo segundo o projecto do Arquitecto Germando de Castro Pinheiro.